Voo 93 é talvez um pouco diferente daquilo que poderíamos esperar. Num filme com menos de 2 horas, a primeira passa-se quase totalmente em salas de controlo de tráfego aéreo de diversos aeroportos. Pouco a pouco os controladores aéreos vão-se dando conta que se passa algo de errado em diversos voos, e vamos assistindo à sua incredulidade perante o que está a acontecer em frente aos seus olhos (“há quantos anos não há um desvio de um avião?” é a pergunta que mais fazem). Pergunto-me o porquê do realizador ‘gastar’ tanto tempo aqui, antes de ‘entrar’ no voo 93 propriamente dito. É que não obstante nos oferecer uma das cenas mais poderosas do filme – os controladores de Nova Iorque a observarem pela janela o segundo avião (que tinha desaparecido dos seus radares) a bater nas torres gémeas - esta primeira parte acaba por se tornar repetitiva, é excessivamente longa. Penso que a resposta é que Paul Greengrass quis, antes de tudo o mais, filmar a estupefacção das pessoas perante o que estava a acontecer. Primeiro dos controladores aéreos (os primeiros a perceber que algo estava errado e inclusive os de nova Iorque a verem ao vivo que aconteceu); depois dos passageiros do voo 93, provavelmente os únicos que souberam o que lhes ia acontecer (os dos outros voos terão pensado que era um ‘vulgar’ desvio do avião). Talvez tenha sido esta a razão que levou o realizador e argumentista a escolher este voo em particular, e não tanto a necessidade de procurar ‘heróis’ como tem sido dito. Aliás é curioso observar que num filme onde não há nenhuma personagem principal, há uma enorme quantidade de grandes planos - dos controladores aéreos, dos passageiros do voo, dos terroristas – todos rostos surpresos ou assustados (incluindo os dos terroristas).
A 'segunda parte' do filme, em que a câmara vai para dentro do avião, na minha opinião é melhor, e superou as minhas expectativas: a visão do realizador é equilibrada e nada maniqueísta (podendo-se ou não acreditar no seu retrato dos terroristas – assustadíssimos e muito pouco profissionais), verosímil (o modo como os passageiros se vão organizando) e, mais difícil, consegue manter a tensão até ao fim, feito tanto maior quanto o espectador já sabe o desfecho.
Paul Greengrass não fez um grande filme, mas o improvável seria faze-lo - afinal esta é a primeira obra que Hollywood nos dá sobre o 11 de Setembro. Quantos filmes foram feitos sobre a guerra do Vietname para aparecerem 3 obras-primas? 'Voo 93' limita-se a ser um filme competente e honesto, mas que supera o formato didáctico de telefilme - o realizador diz-nos algo mais sobre as circunstâncias do 11 de Setembro, mas não se esquece nunca das regras que regem um bom thriller.
United 93, E.U.A., 2006. Realização: Paul Greengrass. Com: J. Johnson, Gary Commock, Polly Adams, Opal Alladin, Nancy McDoniel, Starla Benford, Trish Gates, Simon Poland, Khalid Abdalla, David Alan Basche, Lisa Colón-Zayas, Meghan Heffern, Olivia Thirlby, Cheyenne Jackson
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