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27.9.06

98 octanas



É conhecida a definição de António Variações - que a sua música estaria algures entre o Minho e Nova Iorque. Poder-se-ia dizer algo semelhante deste novo filme de Fernando Lopes: que está a meio caminho entre um certo cinema americano (os film noir, os road movies) e um certo cinema português (mais difícil de justificar esta última parte - mas que é muito português, lá disso não há duvidas). Não há aqui grande narrativa, apenas duas personagens que se encontram numa estação de serviço (o símbolo por excelência de um novo Portugal, 'moderno') e vão país fora à deriva, ao sabor do vento (raramente vi um filme passado tanto tempo num carro). Ele (Rogério Samora) foge de algo que desconhecemos, ela (a bela Carla Chambel) busca algo, também não sabemos muito bem o quê. Tu que buscas companhia, e eu que busco quem amar, como cantava Variações? O fio narrativo é ténue e apenas vamos apanhando algo aqui e ali, através dos diálogos entre as duas personagens (escritos pelo realizador e pelo crítico João Lopes), artificiais, rarefeitos, ríspidos, ora coloquiais ora pomposos, conversas de surdos o mais das vezes. Jogam um jogo entre os dois em que o espectador nem sempre consegue entrar.
'98 octanas' é belissimamente filmado, quase que não há um plano que não valha por si, que não valha muitos filmes que por aí andam. É também desequilibrado, com situações mal resolvidas (por exemplo: toda a cena com a avó, que parece um episódio metido à força no corpo do filme), com pormenores insólitos (a cena do cameo de Joaquim Leitão). Mas é também um filme com força, que arrisca, que não é formatado, por onde passa uma aura de mistério e de erotismo não muito vulgar.
98 octanas, Portugal, 2006. Realização: Fernando Lopes: Com: Rogério Samora, Carla Chambel, Márcia Breia, Fernando Heitor, Joaquim Leitão, Fernando Lopes.

1 comments:

Unknown said...

parece que fomos os únicos a gostar :)