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4.10.06

A Senhora da Água



Actualmente só estamos habituados a aceitar a pura fantasia em dois tipos de filmes: em sagas a la Senhor dos Anéis, obras assumidamente no domínio do fantástico, com elfos e hobbits , ou nos filmes de terror, em que acreditamos em zombies e quejandos com a maior facilidade. Já fábulas intimistas, em que seres humanos como nós, que vivem num mundo como o nosso, convivem com seres de outros mundos, são vítimas do maior cepticismo. O riquíssimo imaginário das histórias infantis, fantasiosas, sem lógica, maravilhosas, praticamente não entra no cinema para adultos, excepção feita a Spielberg cuja tendência para a lamechice muitas vezes estraga a coisa.
É precisamente neste mundo das histórias de embalar que se inscreve este último filme de M.Night Shyamalan, um dos mais originais e inventivos contadores de histórias do cinema actual. 'Lady in the Water', que tem sido muito atacado por motivos extra-filme (a suposta megalomania do realizador, o divórcio com a Disney, etc., etc.) é uma fábula sobre seres dum outro mundo, aquático, que vêm ao mundo dos humanos (mais precisamente a um microcosmos - um daqueles condomínios com uma piscina no meio), maravilhosamente filmada, fotografada, cenografada (não sei se a palavra existe), interpretada. É cinema em estado puro, ficção sem necessidade de buscar qualquer tipo de realismo, naturalismo, ou mesmo lógica. Coisas aliás que nunca preocuparam os grandes artistas: basta pensar em David Lynch, não é preciso ir mais longe. Os seres humanos deste filme aceitam naturalmente a presença de uma ninfa entre eles, e nessa naturalidade está um dos fascínios do filme. O único que duvida, porque acha que sabe tudo, que interpreta tudo racional e dogmaticamente, não acaba bem. Que seja um crítico cinematográfico é uma tentação que Shyamalan poderia ter evitado - as metáforas evidentes são as menos interessantes. O tom de comédia que se insinua pela ficção também nem sempre resulta, 'cortando' por vezes o ar sobrenatural que respiramos. Pequenos pecados que, juntamente com a sensação que a 'história' não é tão poderosa quanto o realizador-argumentista pretenderia, impedem, na minha modesta opinião, que o filme se alcandore ao estatuto de obra-prima. Mas não garanto que o futuro não me desminta...
Lady in the Water, E.U.A., 2006. Realização: M. Night Shyamalan. Com: Paul Giamatti, Bryce Dallas Howard, Bob Balaban, Jeffrey Wright, Sarita Choudhury, Freddy Rodriguez, Bill Irwin, Jared Harris, M. Night Shyamalan.

4 comments:

MicasMariana said...

Ainda bem que aqui vim espreitar:)
Tenho vontade de ver este filme desde que comecei a ouvir falar dele, mas com todas as críticas e controvérsias estava a ver que ia levar uma daquelas banhadas...
Ok, não é uma obra-prima, mas não desilude, né?

Unknown said...

É quase uma obra-prima :)

Hugo said...

O que é deveras assombroso é a utilização do espaço: imenso, apesar de aparentemente finito. Tirando isso, não sai muito bem na fotografia o Shyamalana desta vez.

Anonymous said...

Creio que poderá tornar-se uma grande obra.
Considero-o um filme de excelência.