Não percebo muito bem o que Joaquim Leitão pretendeu com este filme. É todo construído em suspense, mas em boa verdade este quase não existe: desde o inicio que se sabe da existência do caso homossexual, e desde uma determinada cena que se sabe quem matou quem, sendo a cena final explicativa desnecessária. Dir-se-á que isto não passa do MacGuffin, sendo o importante para o realizador mostrar o que era a realidade das tropas no ultramar. Bom, o retrato até é conseguido, através de detalhes importantes: os diversos sotaques dos magalas, as suas diversas proveniências sociais, um cast bem escolhido, com actores pouco conhecidos (embora haja ali muita dentadura imaculada a trair as personagens), tudo isto contribui para um inegável realismo. Mas, sinceramente, mesmo se o ambiente é correcto, isso não basta - prova disso é que o realizador puxa a história do suspense muito para lá do mero pretexto narrativo. Dir-se-á então, que também este tom realista, este mostrar as coisas como eram, não era, per si, o objectivo número um do realizador, mas sim 'falar' duma realidade oculta -a homossexualidade entre tropas, com a sua inescapável marca de tragédia. Mas aí também falta qualquer coisa. A que será então a frase chave do filme - "no exército português não há maricas, nem oficiais que matam soldados" - parece artificial na boca de quem a diz, percebemos que foi ali posta como uma espécie de declaração de intenções. Entre estes três 'géneros', o de suspense, o realista e a tragédia, perde-se o realizador e perdem-se as personagens. Fica ainda assim a do Capitão (Adriano Carvalho), acima dos estereótipos. Por ela vale a pena ver '20,13', quanto a mim o mais ambicioso filme de Joaquim Leitão em muitos anos, embora pelo que disse me pareça um filme falhado. Mas antes assim que cair em mais 'Tentações'.
20,13, Portugal, 2006. Realização: Joaquim Leitão. Com: Marco d’Almeida, Adriano Carvalho, Carla Chambel, Maya Booth, Ivo Canelas.
4 comments:
Não deslumbra, mas fossem todos os filmes portugueses tão competentes e ja não estávamos mal. Até é capaz de ser o melhor que se fez por cá este ano.
Bom, eu não consegui ver o 'Juventude em marcha', de modo que não posso opinar sobre o mais polémico, digamos assim. Mas gostei bastante - e parece que fui p único - de 'Coisa Ruim'. E se contarmos curtas, também gostante de 'Rapace'.
gostante= gostei bastante. as coisas que saem às vezes...
Também gostei de "Coisa Ruim", embora o final me tenha desapontado um pouco. Já "Juventude em Marcha", enfim, digamos que não aconselho.
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