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15.1.07

Body Rice



Uma adolescente deitada na cama fuma cigarro após cigarro. Outra vagueia sem rumo pela paisagem alentejana. São alemãs e vieram para o Alentejo, tal como muitos seus compatriotas ‘problemáticos’, integradas em programas de reinserção social. ‘Body Rice’ acompanha o seu dia-a-dia, que consiste basicamente em não fazer nada. Desenraizados, deslocados, vivem numa espécie de vazio existencial e apatia emocional. Não sabemos se têm esperanças, o que pensam da sua situação, se sairão daqui de modo a ser ‘reinseridos’ na sociedade. Sobre isto o realizador nada nos diz. Limita-se a dar a ver, a filmar estes corpos à deriva no deserto Alentejano. Improvisam-se algumas raves, ouve-se música industrial e electrónica (Einsturzende Neubaten, Xmal Deutchland, etc.), há algum sexo fortuito, mas a vida social fica-se por aí. Durante o filme inteiro não há mais de meia dúzia de diálogos. Não passará despercebido a ninguém que a cena mais calorosa do filme se dá entre uma rapariga e...um robot de brincar.
‘Body Rice’ é mais um filme português que teima em ser diferente. Que parte duma matéria-prima interessante e a trabalha dum modo inesperado - tem-se falado que dilui a fronteira entre cinema e artes performativas, e é uma maneira de pôr as coisas. Quem só entende o cinema como algo narrativo, com princípio, meio e fim, deve-se abster. Quem arriscar, tem direito – no mínimo – ao primeiro OVNI do ano.
Body Rice, Portugal, 2006. Realização: Hugo Vieira da Silva. Com: Alice Dwyer, Luís Guerra, André Hennicke, Pedro Hestnes e Julika Jenkins.

2 comments:

gonn1000 said...

"Quem arriscar, tem direito – no mínimo – ao primeiro OVNI do ano."

Ou ao pior filme do ano...

Unknown said...

De facto, acho que é mesmo o teu estilo ;)
Eu gostei.