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12.1.07

Sonhar com Xangai



Penso que foi Stendhal quem disse que os actos banais do quotidiano se tornam relevantes se tiverem lugar numa época histórica especial. Lembrei-me desta 'máxima' ao ver este filme. Aqui se conta o dia a dia de Qing Hong, uma adolescente como outra qualquer: as suas prioridades são sair à noite com as amigas, experimentar uns sapatos de salto alto, namoriscar. E, claro, colidem com as do pai: este quer que ela estude para entrar na universidade e sair da aldeola onde vivem. Aliás ele próprio quer regressar para Xangai, donde veio há vinte anos atrás para trabalhar numa fábrica, na sequência de um programa governamental.
As angustias e divertimentos de Qing Hong tornam-se relevantes por espelharem o clima de abertura que se respirava na China dos anos 80, na sequência das reformas promovidas por Deng Xiaoping. Os jovens usam calças à boca de sino, ouvem rock and roll, organizam-se em gangs, vão a festas clandestinas. Quase nos esquecemos que estamos na China comunista e não numa qualquer cidadezita de qualquer outro país. Só nos lembramos quando na escola proíbem as calças à boca de sino; ou quando na fábrica do pai de Qing Hong, não o deixam partir; ou, claro, quando passa pelas ruas um carro com um altifalante a anunciar...as execuções que vão ter lugar nesse dia!
'Sonhar com Xangai' torna-se assim um filme interessante nesta atenção 'realista' que dá aos pequenos ventos de mudança que iam soprando por essa época (e que iriam culminar meia dúzia de anos depois em Tiananmen), embora não ultrapasse a mediania competente a nível cinematográfico.
Sem deslumbrar, é ainda assim uma boa alternativa à dieta hollywoodiana que nos vai sendo quase exclusivamente servida...
Qing Hong / Shanghai Dreams, China, 2005. Realização: Wang Xiaoshuai. Com: Gao Yuanyuan, Li Bin, Yan Anlian, Wang Xueyang e Qing Hao.

2 comments:

Susana Fonseca said...

"o ventre do arquitecto"...com música de Wim Mertens, se não me engano...
Passei para cumprimentar e dizer que fiz a lista dos filmes de 2006, convido-te a passar por lá.
Abraços cinéfilos

Maffa said...

Eu gosto sempre de ver filmes de outros sítios. Mas este achei um pouco aborrecido... Acabou por ser uma história de tirania parental como se passa em muito lado. Mas realmente nao reparei em todas essas coisas que falas nesta crítica.