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19.3.07

O último capitulo



O corpo principal de 'The fountain', chamemos-lhe assim, aquilo que se passa no 'presente', não se distingue muito de um filme daqueles que passam no Fantasporto: num laboratório algo obscuro, usando chimpanzés como cobaias, um investigador (Hugh Jackman) tenta descobrir em contra-relógio uma cura para o cancro, para salvar a sua mulher (Rachel Weisz) que tem um tumor maligno. Acontece que intercalados com esta história, estão dois outros segmentos: um épico, passado no século XVI, em que um conquistador espanhol (Hugh Jackman) busca na selva latino-americana a árvore da vida (referenciada na Biblia) para conquistar o amor da sua rainha (Rachel Weisz), ameaçada pela inquisição (e para este segmento ainda há uma explicação lógica); e um outro, místico, meditativo, que não se sabe muito bem a que se deve, e que tanto tem encanitado os detractores do filme (aí uns 99% dos críticos de cinema). Este segmento é assim uma espécie de divagação visual passada no espaço, assumidamente inspirada em '2001', mas onde a beleza geométrica de Kubrick dá lugar um visual alucinatório, a um devaneio plástico incrustado no miolo do filme, sem lógica ou propósito aparente, com uma música new age a acompanhar, para piorar o caso se necessário fosse. É uma espécie de corolário do mote do filme, da morte como renascimento, um equivalente visual do misticismo (com referência a lendas Maias e tudo) que percorre o filme.
Assim contado não parece grande coisa, mas o cinema também é uma arte visual e também é mais que teatro filmado. E o certo é que 'The fountain' possui uma beleza insólita, uma qualquer força que agarra, algo que transcende as dezenas de filmes formatados que vemos semana após semana. Tem-se falado em megalomania, mas o filme, na sua estranheza, é surpreendentemente sóbrio, parece quase artesanal por vezes, tem uma sinceridade desarmante, um romantismo deslocado que toca.
A mim, que o fui ver cheio de preconceitos (não sou dado a misticismos new age e detestei 'A vida não é um sonho') conquistou-me. É um objecto cinematográfico completo que, não obstante as suas imperfeições, desperta todos os nossos sentidos.
The Fountain, E.U.A., 2006. Realização: Darren Aronofsky. Com: Hugh Jackman, Rachel Weisz, Ellen Burstyn, Mark Margolis, Cliff Curtis, Sean Patrick Thomas, Donna Murphy, Ethan Suplee.

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