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8.5.07

10 filmes da vida de...

...Sérgio Alpendre, 38 anos, cinéfilo doente desde 1989. É jornalista e editor da Revista Paisà, publicação bimestral de cinema.

DEZ ENTRE OS VÁRIOS FILMES QUE MUDARAM MINHA VIDA

A escolha é meramente circunstancial, movida pela paixão e pelo sabor de revisões e redescobertas. Eu já havia feito uma lista semelhante para o blog do Chico Fireman. Mas, como já se passaram uns dois anos, me arrisco novamente. Quando eu repetir cineastas, tomarei o cuidado de não repetir os filmes, a não ser quando for inevitável. Claro que algumas escolhas são por demais manjadas. Poderia citar só diretores pouco mencionados, ou diretores esquecidos – e teria muitos que preenchem esses requisitos e são tão merecedores quanto os escolhidos abaixo. Mas se eu for pensar unicamente no critério abalo sísmico interno, os que escolhi representam melhor os meus quase vinte anos de cinefilia compulsica. Aos muitos diretores do coração que ficaram de fora: Lang, Preminger, Ford, Hawks, Resnais, Rohmer, Romero, Eastwood, Scorsese, De Palma, Welles, McCarey, Tsai, Kiarostami, Mizoguchi, Ozu, Kiyoshi Kurosawa... e tantos outros, a menção carinhosa nesta introdução. Aos leitores que quiserem (re) descobrir alguns desses filmes, minhas mais sinceras palavras de incentivo.
* perdoem a escolha pelo título em português que os filmes tiveram no Brasil.


Uma Mulher Sob Influência (A Woman Under the Influence, 1974) – de John Cassavetes
Durante muito tempo tinha uma preferência escancarada por Faces, mas uma nova série de revisões da obra deste diretor inigualável me fez equiparar este filme ao preferido solitário de outrora. Cada vez que Gena Rowlands mostrava sua maneira peculiar de amar, eu me vejo em lágrimas. E assim acontece a cada revisão.

Amor de Perdição (1978), de Manoel de Oliveira
Manoel é dos meus três diretores preferidos. Um dos outros é Cassavetes, e não me perguntem o terceiro, pois muda a cada dia, tantos merecedores de um lugar privilegiado em meu coração. A primeira vez que vi este filme, a sala acarpetada estava com o ar condicionado quebrado. Foi um martírio. Mas também uma das sessões mais intensas da minha vida cinéfila. Na segunda vez, o projetor estava quebrado, e ocorria interrupção a cada vinte minutos para troca dos rolos. A sessão demorou mais de seis horas, mas foi novamente uma experiência intensa, semelhante à que passei descobrindo O Sapato de Cetim, do mesmo diretor. Quando apertei a mão de Manoel de Oliveira, numa de suas passagens por São Paulo, mal pude falar. Fiquei emudecido, tamanha a minha admiração pelo cinema desse senhor tão culto e tão simples.

O Anjo Exterminador (El Angel Exterminador, 1962), de Luis Buñuel
Descoberta do início da cinefilia, que ainda se mantém no panteão. Esse mudou minha vida no sentido de que algumas inquietações religiosas e filosóficas (sim, nessa época meu cérebro ainda era capaz de tê-las) me pareceram muito bem traduzidas em imagens. Ou seja, adorei Buñuel desde o início por que ele me fez compreender melhor a mim mesmo e ao meu espírito.

Verão Violento (Estate Violenta, 1959), de Valerio Zurlini
Junto com Dois Destinos, um dos filmes que mais mexeu comigo. Primeiro pelo plot-point inesquecível do abraço da criança em Trintignant, que iria mudar a vida dele e da mãe da criança. Segundo, pelo genial final do primeiro ato, com a dança de olhares entre as pessoas que dançavam no casarão. Não conheço quem tenha tratado com tanta sensibilidade a falta de reciprocidade nos flertes, e o ciúme dos não correspondidos.

O Desprezo (Le Mépris, 1963), de Jean-Luc Godard
Poderia ser Pierrot le Fou, Weekend, O Pequeno Soldado, Passion, Prenom Carmen, Éloge D’Amour... todos geniais. Esse eu conheci em VHS, numa cópia adulterada pela Globovideo, com cores esmaecidas e sem o formato scope, além de ter dois rolos trocados. Mesmo assim, bateu forte, e já naquela época considerei uma obra-prima. Depois revi em cinema (duas vezes) e DVD (mais uma vez), e ainda acho que preciso rever mais umas vionte vezes para captar tudo que o filme pode me passar.

As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant (Die bitteren Tränen der Petra von Kant, 1972), de Rainer Werner Fassbinder
Para uma aula que ministrei recentemente, fiz ampla revisão da obra de um dos meus diretores preferidos. Ainda me divido entre esse e Roleta Chinesa, Num Ano Com Treze Luas e O Desespero de Veronika Voss. Mas Lágrimas Amargas, para mim, retrata muito bem a diferença entre cinema e teatro. Fassbinder conhecia muito bem essa diferença, e o que ele realiza aqui, uma adaptação de peça de teatro de sua autoria, é cinema em estado bruto, entregando o que nenhuma outra arte poderia entregar: o balé dos olhares, maliciosos, invejosos, despeitados, aventureiros, recalcados, humanos, enfim.

Recordações da Casa Amarela (1989), de João Cesar Monteiro
Pode até ser média com o amigo blogueiro de Portugal. Mas da trinca de grandes cineastas portugueses, Monteiro ainda ocupa lugar de destaque (Pedro Costa pode se igualar a ele, mas nunca se superar). Nenhum filme entre os que ficaram de fora superam este primeiro episódio das aventuras do iconoclasta (como o diretor) João de Deus, visto em uma sala minúscula de São Paulo, e nunca esquecido, permanecendo como a melhor obra a herdar a verve dadaísta de Luis Buñuel.

Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, 1950), de Billy Wilder
Outro que permanece no pódio, desde o início da cinefilia. Wilder tem outros tantos filmes sensacionais, mas nenhum me fez ficar sem poder andar por alguns minutos, preso, estatelado na poltrona da antiga cinemateca de Pinheiros, São Paulo. Lembro que ao final eu soltei um suspiro, que foi correspondido por um olhar de cumplicidade de um estranho que também havia se impressionado com o filme, e levantava, com dificuldades, na fileira da frente.

A Grande Ilusão (La Grande Illusion, 1937), de Jean Renoir
É óbvio, assim como seria escolher A Regra do Jogo, mas é inevitável. Renoir pode ter outros filmes igualmente soberbos (French Can Can, Une Partie de Campagne, O Rio Sagrado), mas a frase “ a natureza não tem fronteiras”, dita naquele momento, naquele contexto, é coisa de grandes.

Limite (1931), de Mário Peixoto
Chamar de poesia em imagens seria muito batido? Penso que sim. Mas não conheço outra tradução para o que é esse filme. Aquelas imagens parecem captadas por uma outra coisa que não uma câmera. Um olho marejado de lágrimas, talvez. Ou um olho de alguém que enxerga pela primeira vez.

Todas as semanas um blogger cinéfilo fala aqui de 10 filmes da sua vida. O próximo convidado é o terceiro homem

3 comments:

Paulo said...

O meu blog de cinema preferido... que tomei a liberdade de linkar. abraço e desejos de bons filmes

Unknown said...

Obrigado. E é fantástico ter um link vindo da China!

Unknown said...

Teve que ser um cinéfilo Brasileiro a pôr 2 filmes portugueses :)