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14.5.07

Quebra de confiança



Não é fácil dizer mal de 'Quebra de confiança'. Tem um excelente naipe de actores (Chris Cooper, Ryan Phillippe, Laura Linney), uma magnífica fotografia (de Tak Fujimoto, que já trabalhou com Shyamalan ou Jonathan Demme, por exemplo), um argumento interessante, baseado num caso real de um traidor de dentro do FBI, e uma realização discreta e com um certo travo clássico. E no entanto...
Comecemos pelo argumento, pois penso que aqui se centram algumas das brechas do filme. Este estrutura-se num jogo do gato e do rato: de um lado o veterano e experiente agente Hanssen (Cooper), suspeito de passar informação à União Soviética, do outro o novato candidato a agente, Eric O'Neill (Phillippe). A missão deste é desmascarar o primeiro, missão tão difícil quanto Hanssen é precisamente um experimentado e competente agente de espionagem e contra-espionagem, não sendo facilmente iludido. Para o conseguir O'Neill joga com os pontos vulneráveis do seu chefe, decorrentes da imagem que ele construiu: profissionalmente um homem poderoso e importante, que só não subiu ainda mais na carreira devido à sua integridade, e em privado um católico devoto e intransigente. Naturalmente que a ideia é boa: servir-se da vaidade e do ego de alguém frio, inacessível e manipulador, para tentar furar essa carapaça, mas na prática parece tudo um pouco lasso e, nos momentos chave, Hanssen demonstra sempre uma ingenuidade pouco credível perante o seu inexperiente funcionário.
Por outro lado, o subplot da mulher de O'Neill, da dificuldade que um agente de uma organização como o FBI tem em conciliar a sua profissão com a familia, também é algo banal e pouco desenvolvido, não tendo a bela Caroline Dhavernas grande personagem para defender.
Dir-se-á que isto são pormenores, e são-no, mas contribuem para uma certa quebra de confiança do espectador no filme; tal como a realização, que tem o tal travo clássico que já referimos, mas a que falta aquele golpe de asa dos grandes realizadores para elevar o filme acima de uma certa monotonia competente.
Numa época de Homens Aranhas, apetece sinceramente simpatizar com um filme como este, que nem é de desprezar, mas não podemos deixar de pensar que está cada vez mais a desaparecer um certo savoir-faire que existia em Hollywood, que cada vez é mais difícil encontrar surpresas fora da meia dúzia de realizadores do costume...
Breach, E.UA., 2007. Realização: Billy Ray. Com: Chris Cooper, Ryan Phillippe, Laura Linney, Caroline Dhavernas, Gary Cole, Dennis Haysbert, Kathleen Quinlan, Bruce Davison.

1 comments:

Li O´Hara said...

oi,
bem estava passando por aqui, achei sua página e me interessei por este texto de ontem. realmente se avaliarmos pelo que temos agora nas telas é decepcionante. E como a arte se mistura com a indústria, a arte acaba minimizada, e está cada vez mais raro encontrarmos novos filmes com elementos de destaque que não queiram apenas aproveitar o sucesso de outro ou apenas recontar uma história já batida. Mas em meio a tantos blockbusters, pipocas, suga-ingressos, encontramos alguns roteiros originais, atores sérios e cineastas que ainda se importam com a arte.
abraços