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11.5.07

The Hot Spot/Ardente sedução

Os meus começos foram modestos. Tendo vivido numa pequena cidade do interior até aos 18 anos (e continuando a passar lá largas temporadas durante os 5 anos seguintes), para além da TV (2 canais) só havia duas hipóteses de ver filmes: ou ir ao cinema local, o Spock (1 sala, claro) ou recorrer ao clube de vídeo, o Felina (mais tarde abriu também o Charlot). Escusado será dizer que não havia Internet: nada de Amazons nem de emules. Certamente que já havia critica de cinema nos jornais, mas sinceramente não me lembro; se havia, eu não a lia. Não tinha qualquer ideia do que fosse isso de cinefilia e se clássicos via eram os que passavam na televisão, talvez uns Hitchcocks ou uns westerns (infelizmente a minha memória para estas coisas é muito má – admiro profundamente aquelas pessoas que se lembram do primeiro filme que viram, aos 4 anos). Assim sendo, e uma vez que o Spock não ia muito além dos Karates Kids (que se podiam eternizar em cartaz), a solução era vasculhar o Felina, escolhendo eu os filmes basicamente ao calha.
O único sintoma da cinefilia que estava para vir, penso eu, era o facto de sempre ter preferido rever um filme de que havia gostado do que andar atrás da ‘última novidade’ (relativa, claro está; os filmes deviam chegar à terrinha com uns 6 meses de atraso).


O filme que mais vezes vi por essa altura, o que acabava sempre por trazer quando nada mais me agradava na visita ao Felina, era ‘The Hot Spot’, que por cá recebeu o encantador título ‘Ardente sedução’. A fita é realizada por Dennis Hopper, de quem eu na altura de certeza nunca ouvira falar, devendo-se provavelmente o meu critério de selecção ao facto de a star ser Don Johnson, à época bastante famoso devido a Miami Vice (série que, diga-se, pouco tinha a ver com o excelente filme de Michael Mann).
Nunca mais vi o filme até hoje, mas tenho a certeza de que se o revisse ainda gostaria dele. Embora eu não o soubesse, ‘The Hot Spot’ é uma espécie de neo-noir. Don Johnson é Harry Madox (hélas!), um vigarista de segunda classe, sedutor, misterioso e vivaço, que vai parar a uma terriola no meio de nenhures, na América profunda. Aí arranja emprego num stand de automóveis, mas o que tem debaixo de olho é o banco local. Claro que uma ave rara destas em tal lugarejo depressa arranja sarilhos com saias, e Madox quando dá conta está dividido entre duas mulheres: uma é a mulher do seu patrão (Virginia Madsen, que só revi recentemente em Sideways), sedutora, manipuladora, feita da mesma massa que ele – uma perfeita femme fatale, em suma; a outra é a inocente e virginal contabilista da empresa, uma muito jovem e bela Jennifer Conelly, num dos seus primeiros papéis - reconheço desde já que se devia a ela muito do encanto que para mim este filme tinha (aliás abro um parêntesis para dizer que os únicos sítios onde este filme hoje em dia é lembrado é em sites tipo Mr.Skin, devido ao” great up-close on her breasts”) . Sendo, como já disse, um film noir, está bem de ver qual das duas ganha a batalha pelo bom do Madox…
Dennis Hopper só realizaria mais uma longa-metragem, a carreira de Don Johnson no cinema nunca chegaria a arrancar, Virginia Madsen entrou numa espécie de limbo até anos recentes e apenas Jennifer Connelly partiria para voos maiores. Mas aqui tudo bateu certo e a química foi perfeita. Não há filme de que eu tenha mais memórias.
The Hot Spot, E.U.A., 1990. Realização: Dennis Hopper. Com: Don Johnson, Virginia Madsen, Jennifer Connelly, Charles Martin Smith, William Sadler, Jerry Hardin.

6 comments:

Capitão Napalm said...

Sempre pensei que Harry Madox fosse nome de algum astronauta. Nunca vi este filme, mas conheço assim muito ao longe, muito mesmo. Quanto ao "Karate Kid" no cinema, pena não o ter visto lá (e mais não digo, antes que me enterre todo:P).

Unknown said...

Hahahahaha, teria sido uma bela ideia escolher o nome de um astronauta, de facto.
Quanto ao Karate Kid não só o vi no cinema, como na altura eu tinha aulas de karate e fui com o resto da classse toda! O filme foi um sucesso tão grande que o dono do Spock punha umas cadeiras extra, à frente da primeira fila...

S.B. said...

penso que nessa altura e nessas circunstâncias, o cinema tinha um gosto especial... às vezes faz falta a falta de oferta.

Unknown said...

É verdade. Hoje em dia é mais dificil rever um filme, há tantos 'novos' para ver...

Anonymous said...

Acho que nos não tão longínquos tempos da minha "cinefilia" de videoclube, geralmente posta em marcha nas intermináveis férias de verão em que papava uns 5 filmes ao dia (dos quais agora me devo lembrar de 1/3 e cuja qualidade raiava o «médio-baixo», nunca vi The Hot Spot. Mas gostei mesmo de ler a tua exposição. Gosto sempre quando as pessoas falam da sua relação com os filmes, especialmente quando são coisas mais ou menos "obscuras" : )

Unknown said...

Hehe, eu não me lembro nem de 1/10 deles ;)
Mas qualquer dia falo dos outros 2 ou 3 que me marcaram nessa altura.