Se todos os filmes de Tim Burton se passam numa outra dimensão, a que se poderá chamar onírica, aqueles onde as suas enormes capacidades melhor se revelam são os mais negros, aqueles onde o seu extraordinário universo gótico e sombrio serve de pano de fundo. Estou a pensar em ‘Eduardo mãos de tesoura’ (um clássico instantâneo), em ‘A lenda do cavaleiro sem cabeça’, ou nas suas animações. E agora, também em ‘Sweeney Todd’. Pelo contrário, filmes mais ‘coloridos’ como ‘The Big Fish’ ou ‘Charlie e a fábrica de chocolate’ não me convenceram inteiramente. Burton é, definitivamente, o rapaz que queria ser Vincent Price.
‘Sweeney Todd’ tem a particularidade de ser o primeiro musical de Burton com personagens de carne e osso, adaptando a peça homónima da Broadway. Burton ao que parece segue-a à letra, mas como qualquer grande criador, não só não se deixa espartilhar por esta, como a transforma completamente numa coisa sua. A sanguinolenta história do barbeiro que mata por vingança é rapidamente burtonizada, parecendo que a personagem foi criada especialmente para Johnny Depp (que nasceu para fazer papeis destes) e que não poderia ter como cenário outro local que não esta Londres sombria que é tão dickensiana quanto burtoniana. E, se ao princípio me pareceu que as canções limitavam um bocado o filme (a mim estas canções de musicais parecem-me todas iguais), a verdade é que vai havendo um crescendo à medida que a narrativa se desenvolve, não só em termos dramáticos como também musicais, terminando o filme em grande estilo.
Se acrescentarmos, uma vez mais, que ninguém filma hoje em dia como Burton, que a nenhum outro realizador se aplica tão apropriadamente o lugar-comum demasiadamente gasto de ser um poeta com a câmara, torna-se claro que estamos presente um filme imperdível. Feliz o ano que nos proporciona logo a abrir duas grandes obras dos realizadores mais extravagantes da actualidade.
Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street, E.U.A./Grã-Bretanha, 2007. Realização: Tim Burton. Com: Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Alan Rickman, Timothy Spall, Sacha Baron Cohen, Laura Michelle Kelly, Jamie Campbell.
4 comments:
Desiludiu-me, infelizmente.
Um grande filme que faz todo o sentido na filmografia "Burtoniana" (neste post inventaste um novo léxico). É, talvez, o menos inocente e o mais sanguinolento.
O chamado Universo Burton, cada vez toma formas mais palpáveis e é um facto a que ninguém pode fugir.
Este Sweeney Todd é um orgasmo para os sentidos e um delirio para os olhos.
Mais uma vez, como sempre Depp & Burton & Carter em grande.
já não ia ao cinema há muito, mas no fundo sempre soube que Burton não me iria desiludir..
adorei.. prendeu-me totalmente à tela, eu ansiava a próxima cena como anseio poucas coisas..
mais uma prova da genialidade de Burton, Depp e Carter ;))
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