É conhecida a premissa deste filme: esboçar um biopic de Bob Dylan através de 6 personagens com diferentes nomes (e 6 actores), cada um ecoando uma faceta do cantor.
Quem conhece Todd Haynes não esperaria uma abordagem convencional à coisa e esta não o é certamente. Mas posto isto, também não me parece que o retrato seja tão impercebível ou impossível de agarrar como tem sido dito. É errático e fragmentário, sim. E sem dúvida que há personas mais reconhecíveis que outras (a de Cate Blanchett é a mais familiar, nomeadamente para quem tenha visto ‘No Direction Home’ de Scorsese; a de Richard Gere/Billy the Kid será mais difícil de acompanhar). Mas quem quiser saber as minudências biográficas de Dylan, pode ver os documentários que lhe foram dedicados, ou ler uma biografia.
Haynes pretendeu antes apanhar as várias faces de Bob Dylan, soltando pistas, apontando pormenores. Fazer um retrato poético e musical do artista, passe a vulgaridade gasta da expressão, deixar-se ir pelas músicas de Dylan, pela sua personalidade, pelas suas idiossincrasias. Tanto estamos num registo de falso documentário, como a câmara se deixa agarrar por uma canção e vai divagando quase ao estilo videoclip.
Comparando com outro biopic recente, o muito elogiado filme de Corbijn sobre Ian Curtis, eu diria que ‘Control’ era um retrato feito por um fotografo, que procurou o enquadramento perfeito e a luz exacta, enquanto ‘I´m Not There’ é um retrato feito por um cineasta, que se serve da montagem, do som, e dos múltiplos pontos de vista que a câmara permite para ir andando à volta do retratado, para o ir tentando captar em movimento. Tanto o apanha, como o deixa fugir, mas só essa busca vale toda a pena.
I`m Not There, E.U.A./Alemanha, 2007. Realização: Todd Haynes. Com: Christian Bale, Cate Blanchett, Marcus Carl Franklin, Richard Gere, Heath Ledger, Ben Whishaw, Charlotte Gainsbourg, David Cross, Bruce Greenwood, Julianne Moore, Michelle Williams.
3 comments:
Também já vi; gostei muito e acho que dizes bem o que dizes aqui. Eu até acho que o filme o apanha muito, mais talvez do que ele possa querer ou ter querido, e menos do que será sempre possível ou impossível. Estão lá as facetas e cruzam-se e há o tal passado, presente e o futuro numa "persona" desdobrada e nuns códigos e diálogos minimamente (e/ou bastante mais do que isso) perceptíveis.:>
(ah, já tinha vindo parar aqui ao blog antes, nice work)
"Mas quem quiser saber as minudências biográficas de Dylan, pode ver os documentários que lhe foram dedicados, ou ler uma biografia." - claro, é evidente. Não podia estar mais em desacordo com a crítica e mais de acordo contigo.
o filme é fantástico. que interessa se é tudo claramente perceptível, se é tudo exactamente verdadeiro? nada.
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