Godard disse que a partir de 'Viagem a Itália' os cineastas pereceberam que bastava um casal e um carro para haver matéria para um filme. Bruno Dumont pega nesta máxima, junta-lhe a tradição americana do road movie, e põe um casal a percorrer os desertos da Califórnia.
Durante 1h30 não se passa 'nada'. Nada a não ser os membros do casal a discutirem, a declararem-se apaixonados, a fazerem sexo (filmado de um modo mais ou menos explicito), a perderem-se na vasta paisagem americana, personagem de tantos filmes.
Dumont gere este tempo e este espaço com mestria e durante muito tempo parece-nos que é apenas isto que ele pretende: filmar as oscilações de uma relação, mostrar-nos as irritações que vão aparecendo, deixar o tempo passar e mostrar o desgaste que ele provoca.
Mas às tantas começam a aparecer sinais de as coisas não vão acabar bem - e quem não gostar de spoilers pode ficar-se por aqui e ir ver o filme.
Entranha-se uma espécie de pressentimento no espectador de que o ar está inquinado, que as despreocupações acabaram - mérito uma vez mais para o realizador, que instala esta tensão a partir de quase nada. E de facto, o filme dá uma volta tremenda e proporciona-nos uns 20 minutos finais brutais, dementes e desconcertantes. Como se tudo o que estivesse antes não fosse mais do que um prólogo para este clímax sinistro.
Não sendo uma obra-prima, 'TwentyNine Palms' é um filme que se distingue claramente da mediania e vale a pena descobrir através dele Bruno Dumont, realizador francês várias vezes premiado em Cannes, mas que não me lembro de ver nas salas portuguesas.
TwentyNine Palms, França/Alemanha/Estados Unidos, 2006. Realização: Bruno Dumont. Com: Katerina Golubeva, David Wissak. Edição DVD 2008 - Atalanta - Fnac.
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