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24.1.09

Notas breves #4



A rapariga da mala
Tal como em ‘Verão violento’, há aqui uma paixão impossível, neste caso de um adolescente (Lorenzo, o excelente Jacques Perrin) por uma mulher mais velha (Aida, a bela Claudia Cardinale), que foi abandonada pelo irmão mais velho daquele, e anda a fazer pela vida. É mais ‘leve’ que os outros Zurlinis que vi, pois é um amor impossível a priori, uma paixão juvenil, meio desinteressada, mas ainda assim tem momentos terríveis, como o da conversa de Cardinale com o padre. Aliás, se virmos o filme pelo lado dela, há uma sombra trágica sempre presente.
Mas, se tanto Aida como Lorenzo são personagens imperdíveis, o simpático e disponível menino rico Lorenzo Fainardi fica mesmo na nossa memória e vemos muito o filme pelos seus olhos.
De resto, a discreta mise en scene de Zurlini é o primor habitual.
La ragazza con la valigia, Valerio Zurini, 1961 (9/10)

Outono escaldante
Terceiro filme de Zurlini que vejo, terceira história de amor (impossível) entre pessoas de idades muito diferentes. A diferença é que, neste caso, o mais velho é o homem (a situação mais vulgar). E o homem é Alain Delon, o Samurai, com trinta e muitos e barba por fazer, que tem uma relação complicada em casa (e a que, como saberemos, está irremediavelmente preso), mas que não se coíbe de se atirar a uma sua aluna, de 19 anos, em plena sala de aula, em frente aos colegas.
Ela namora com o playboy local, sendo que o local é Rimini, uma Rimini muito diferente da de Fellini, uma Rimini de jovens abastados, do jogo, das seduções, das festas, dos segredos, da pequenez, do ambiente irrespirável. Ela não é feliz e gosta da atenção que ele lhe dá. Ela é complicada e ele é complicado, num mundo superficial ou que faz por o ser. E não há hipótese do seu amor, ou o que quer que lhe chamemos, dar certo.
‘Outono escaldante’, fraca ‘tradução’ de ‘La Prima notte di quiete’ (sendo que essa prima notte é a morte), é uma obra-prima absoluta, um daqueles filmes que criam um universo completo, de onde não escapamos sem marcas.
La Prima notte di quiete, Valerio Zurlini, 1972 (10/10)

2 comments:

O Narrador Subjectivo said...

Nunca vi nenhum destes dois, mas Verão Escaldante (acho que é essa a tradução, é o Estate Violenta em italiano) é fabuloso, como um filme de Antonioni, um bocado mais melodramático, mas muito bom visualmente e em termos de actores. Recomendo! :)

Anonymous said...

Por acaso vi este filme quando ele estreou no Império em 1974, depois de tersido extinta a censura. Na altura pareceu-me um bom filme, pois antes do 25 de Abril nada disto era permitido em Portugal. Penso que o Delon morre tragicamente num acidente, quando embate a grande velocidade num camião cisterna.