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4.3.09

O Wrestler



Darren Aronofsky teve a ideia de fazer um filme sobre Mickey Rourke. Mostrar o estado a que chegou o ex-menino bonito de 'Rumble Fish'.

O propósito tem algo de generoso e algo de obsceno. Aronofsky fá-lo num tom não só hiper-realista, como carregando nas tintas todas. Rourke ganhou as suas cicatrizes e uma cara desfigurada no boxe, mas Aronofsky resolveu deslocar a sua personagem para o grotesco mundo do wrestling, esse verdadeiro monumento à estupidez.

Na primeira meia hora do filme assistimos ao derramar de sangue, vindo de pontapés, quedas, agrafadelas, cortes, pancadaria com mesas e cadeiras, golpes de toda a espécie, e não é nada bonito de ver. Aronofsky não quer que tenhamos dúvidas nenhumas de onde chegou a ex-estrela do wrestling e pôe-a a viver naquele mundo white trash que só existe nos E.U.A., morando num parque de roulottes, procurando algum calor humano junto a uma filha que o rejeita e a uma stripper (excelentíssima Marisa Tomei) que por vezes se sente embaraçada com ele.

E arrisca em várias cenas: safa-se umas vezes (como quando a stripper fala no Cordeiro de Deus - mas descobrimos que foi buscar a citação a Mel Gibson e não à Bíblia), noutras nem tanto (o falhado encontro com a filha; a cena demasiadamente ilustrativa do miúdo a falar a Rourke/Randy “The Ram” dos novos jogos da playstation).

E Rourke no meio disto? Está espantoso. Expõe o seu corpo, a sua cara, a sua alma, mas com uma dignidade espantosa que impede sempre, que ele próprio mas também o filme, caiam no grotesco ou no lamechas. Rourke mostra a decadência de Rourke mas não tem pena de Rourke; algum arrependimento, algumas mágoas, mas sempre de pé para o comeback.

Resumindo: Rourke merece todos os elogios; Aronofsky, não tenho tanta certeza.

The Wrestler, E.U.A./França, 2008. Realização: Darren Aronofsky. Com: Mickey Rourke, Marisa Tomei, Evan Rachel Wood, Ernest Miller, Gregg Bello, Todd Barry.

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