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6.3.09

Os guardiões



‘Os Guardiões’ é um objecto estranho (falo do filme, porque nunca li a BD - ou a graphic novel, como agora se diz – que, ao que parece, este adapta fielmente).
A acção passa-se num mundo em que os E.U.A. ganharam a guerra do Vietname, Nixon vai no seu 3º mandato e está-se à beira de um choque nuclear entre os States e a URSS.

A esperança americana de impedir o ataque nuclear reside no homem que já lhes deu a vitória no Vietname: o Dr. Manhattan, um físico nuclear que sofreu um acidente que lhe deu super-poderes e uma considerável veia metafísica. Ficou azul, anda nu ou com uma tanga, e foi-se afastando cada vez mais da humanidade, preferindo refugiar-se em Marte e mandando uns seus avatares fazer sexo com a namorada.

Entretanto há também os guardiões: uns mascarados que em tempo usavam meios pouco ortodoxos para combater o crime, até Nixon acabar com os seus serviços. O assassínio de um deles traz os restantes de volta à acção: um deles recupera o seu veículo da cave e veste o seu traje à Batman; uma outra desempoeira o seu fatinho de Barbie; e um terceiro, que nunca tirou a máscara, comanda as coisas com tiques de psicopata (o excelente Jackie Earle Haley, que se destaca num elenco coeso e sem vedetas). Enfim, estamos a tratar mais com nerds do que com super-heróis.

Posto isto diga-se que as angústias existenciais do Dr.Manhattan contagiam todo o filme: há mais paleio sobre a humanidade, a ameaça nuclear, o fim do sonho americano, o sentido de tudo isto enfim, do que cenas de acção ou de pancadaria (embora haja algumas bastante cruéis). Fossem estas mais de duas horas e meia de meditação sombria sobre o homem, com um ritmo algo perro, realizadas por algum realizador ‘pseudo-intelectual’, como dizem os comentadores do Cinema 2000, e estava o caldo entornado. Mas como vêm embrulhadas em BD e cinema ‘popular’ ainda se torna um blockbuster (embora não me cheire muito).

Eu gostava de dizer que isto primeiro se estranha e depois se entranha, mas a verdade é que nunca se entranhou. Não sei se por culpa da matéria original, se por culpa do realizador Zack Snyder (se bem que este terá sempre culpas no cartório - a banda sonora, por exemplo, um best of que vai de Simon & Garfunkel a Leonard Coen não ajuda), ‘Os guardiões’ pareceu-me um bocado como aqueles brinquedos caros e sofisticados (tipo uma Playstation), de que alguns adultos fazem alarde. Mas que não deixam de ser um brinquedo. Uma coisa para teens, mais que para adultos, não obstante as suas pretensões.

Watchmen, E.U.A./Grã-Bretanha/Canadá, 2009. Realização: Zack Snyder. Com: Malin Akerman, Billy Crudup, Matthew Goode, Jackie Earle Haley, Jeffrey Dean Morgan, Patrick Wilson, Carla Gugino, Matt Frewer, Stephen McHattie.

2 comments:

Zé Dias da Silva said...

É fundamental ler a BD. Ver este filme sem ter lido o livro torna a crítica um bocado coxa, se me permite a expressão. Basta dizer que foi a única BD a ganhar o prémio Hugo. Não quero ser maçador, mas aconselho bastante a leitura do livro (o autor é Alan Moore mas o seu nome não consta da ficha técnica porque ele não gosta)

O Puto said...

A rapariga da imagem parecia a Natalie Portman.