Já não é a primeira vez que Mike Leigh foge ao 'realismo social' que o tornou famoso, basta lembrar 'Topsy-Turvy', que misturava vários géneros, da comédia ao musical.
Em 'Happy-Go-Lucky' a fuga ao seu universo da working class inglesa não é tão radical: é certo que nos movemos por entre a classe média (a protagonista é uma professora primária) e que estamos certamente perante uma comédia (muito divertida), mas o olhar analítico e muito humano do realizador mantém-se focado nas suas personagens com uma lente poderosa e próxima.
Poppy é uma optimista profissional, que não deixa que nada nem ninguém estrague a sua disposição. Se inicialmente nos parece irritante e algo tonta, depressa percebemos que é inteligente, sensível e arreigadamente convicta das suas opções: levar o melhor possível a sua vida, sempre com um olhar positivo e uma saudável despreocupação perante as 'responsabilidades'. Quando a irmã mais nova, já casada e grávida, lhe diz que ela tem que deixar de andar em noitadas, assentar, pensar no futuro, fazer planos a médio prazo, Poppy responde-lhe alegremente: 'planos quinquenais como o Stalin?'.
Mas não é só a irmã a sentir-se perturbada com a sua liberdade e independência: o seu instrutor de condução, um homem frustrado, racista, paranóico, solitário, que Poppy trata com a boa disposição habitual, acaba por confundir tudo, acabando por descarregar sobre ela todas as suas frustrações, não conseguindo digerir a saudável anarquia que aquela mulher traz à sua vida medíocre e rotineira.
Mike Leigh quando não se deixa enredar em demasia em argumentos cheios de boas intenções e preocupações sociais, que por vezes o asfixiam, é um óptimo realizador e excelente director de actores, e aqui mostra-se ao seu nível máximo: a Poppy de Sally Hawkins é uma personagem tão inesquecível como a de David Thewlis em 'Naked', e 'Happy-Go-Lucky' tem entrada directa na galeria dos melhores filmes do realizador inglês.
Happy-Go-Lucky, Grã-Bretanha, 2008. Realização: Mike Leigh. Com: Sally Hawkins, Eddie Marsan, Alexis Zegerman, Samuel Roukin, Andrea Riseborough.
Em 'Happy-Go-Lucky' a fuga ao seu universo da working class inglesa não é tão radical: é certo que nos movemos por entre a classe média (a protagonista é uma professora primária) e que estamos certamente perante uma comédia (muito divertida), mas o olhar analítico e muito humano do realizador mantém-se focado nas suas personagens com uma lente poderosa e próxima.
Poppy é uma optimista profissional, que não deixa que nada nem ninguém estrague a sua disposição. Se inicialmente nos parece irritante e algo tonta, depressa percebemos que é inteligente, sensível e arreigadamente convicta das suas opções: levar o melhor possível a sua vida, sempre com um olhar positivo e uma saudável despreocupação perante as 'responsabilidades'. Quando a irmã mais nova, já casada e grávida, lhe diz que ela tem que deixar de andar em noitadas, assentar, pensar no futuro, fazer planos a médio prazo, Poppy responde-lhe alegremente: 'planos quinquenais como o Stalin?'.
Mas não é só a irmã a sentir-se perturbada com a sua liberdade e independência: o seu instrutor de condução, um homem frustrado, racista, paranóico, solitário, que Poppy trata com a boa disposição habitual, acaba por confundir tudo, acabando por descarregar sobre ela todas as suas frustrações, não conseguindo digerir a saudável anarquia que aquela mulher traz à sua vida medíocre e rotineira.
Mike Leigh quando não se deixa enredar em demasia em argumentos cheios de boas intenções e preocupações sociais, que por vezes o asfixiam, é um óptimo realizador e excelente director de actores, e aqui mostra-se ao seu nível máximo: a Poppy de Sally Hawkins é uma personagem tão inesquecível como a de David Thewlis em 'Naked', e 'Happy-Go-Lucky' tem entrada directa na galeria dos melhores filmes do realizador inglês.
Happy-Go-Lucky, Grã-Bretanha, 2008. Realização: Mike Leigh. Com: Sally Hawkins, Eddie Marsan, Alexis Zegerman, Samuel Roukin, Andrea Riseborough.
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