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14.10.09

Deixa-me entrar


Ao fim de 10 minutos a ver 'Deixa-me entrar' já me tinha lembrado tanto de Kaurismaki (andam por lá umas lacónicas personagens secundárias que vieram directamente dos seus filmes) como de Donnie Darko (esta é mais difícil de explicar). E, note-se, estas são duas referências muito caras nesta casa. Começo por aqui para que os mais snobs (e inocentes) não fujam deste texto quando eu falar em vampiros, tema bastante respeitável mas que ultimamente se tornou sinónimo de praga, que vem invadindo cinema e literatura.

É que este filme trata da história de amor, nas belas paisagens suecas, sempre cobertas de neve,  entre um rapaz de 12 anos e uma vampirinha da mesma idade ('tenho 12 anos, mas já tenho 12 anos há muito tempo'). E, surpresa, fá-lo com um romantismo raro. E, extraordinário, com um erotismo tocante - de todo impossível em Hollywood, diga-se (quando se lembrarem de fazer um remake vão ter obliterar esta parte).

'Deixa-me entrar' trata de adolescentes e de amores adolescentes e de diferença como só Gus Van Sant ou Larry Clark (e este só nos seus melhores momentos) o têm feito. Aqui tanto há lugar para momentos de uma ternura surda, como há para uma cena de bullying ao som de 'A flash in the night' (lembram-se?) que termina com membros decepados a voarem. Sim, como em qualquer grande história de amor, aqui também há sangue e violência e vingança (mas não gore nem coisas demasiado explicitas).

Assim de repente, o único defeito que lhe posso apontar é o de por vezes ser demasiado 'bonitinho', de o realizador ser demasiado 'virtuoso', de escolher sempre o ângulo mais original ou o melhor plano (quando a gente repara demais nelas, estas coisas deixam de ser uma virtude). Mas, diga-se, até isso contribui para o grau de estranheza que o filme provoca, pois são elementos de que não estaríamos à espera neste género. Que o tornam ainda mais um objecto estranho. E, certamente, umas das surpresas do ano e um forte candidato a filme de culto.

Låt den rätte komma in , Suécia, 2008. Realização: Tomas Alfredson. Com: Kare Hedebrant, Lina Leandersson, Per Ragnar, Henrik Dahl, Karin Bergquist.

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