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31.3.10

Millennium 2: A Rapariga que sonhava com uma lata de gasolina e um fósforo


Devido à minha alergia congénita a best sellers, principalmente na subcategoria calhamaços, nunca li a trilogia 'Millenniun' do malogrado Stieg Larsson. Mas, enquanto Hollywood anda a tratar da respectiva adaptação à tela, resolvi espreitar as duas primeiras fitas com que os seus conterrâneos se anteciparam aos americanos.

‘Millenniun 1 – Os homens que odeiam as mulheres’, realizado por Niels Arden Oplev, é um thriller negro e lacónico, que a partir duma trama policial – a busca de uma mulher desaparecida há 40 anos – leva o jornalista Mikael Blomkvist a deparar-se com temas como as simpatias nazis na Suécia, fraudes económicas, o estupro, o assassínio em série e outros igualmente agradáveis. É uma visão verdadeiramente sombria da humanidade. Talvez a intriga seja despachada um bocado depressa de mais, mas não deve ser fácil condensar, mesmo em duas horas e pico, um tijolo do tamanho do do 1º volume da trilogia.

Em ‘Millenniun 2 – A rapariga que sonhava com uma lata de gasolina e um fósforo’, que estreou a semana passada nas nossas salas, a realização passa para Daniel Alfredson, e talvez o filme esteja um furo abaixo do seu antecessor (Daniel não tem o enorme talento demonstrado pelo seu irmão Tomas). Mantém algumas das suas virtudes, como as impecáveis interpretações de Michael Nyqvist (Blomkvist, que tem uma invejável barriguinha que o seu sucessor hollywoodiano não terá de certeza) e Noomi Rapace (Lisbeth Salander), e um estilo despachado e frio, muito nórdico, passe o cliché.

Mas o ambiente não é tão negro e, embora o argumento se centre no passado da Lisbeth, a hacker-punk com traumas por desvendar, paradoxalmente as personagens parecem menos desenvolvidas, menos espessas, meros peões ao serviço da trama. Ou talvez isto seja uma mera consequência da ‘moral da história’ de Millennium, em que o mundo (ou pelo menos a Suécia) é visto como uma gigantesca Sin City, onde não passamos (nós os cidadãos comuns, e mais agudamente as mulheres) de meros títeres nas mãos de gente poderosa e sem escrúpulos que domina um mundo angustiante.

Que esta angústia, este ambiente malsão, passe para o espectador, é façanha que torna estes dois filmes não despiciendos.

Flickan som lekte med elden, Suécia/Dinamarca/Alemanha, 2009. Realização: Daniel Alfredson. Com: Noomi Rapace, Michael Nyqvist, Lena Endre, Sofia Ledarp, Georgi Staykov.

1 comments:

Mc Ako said...

ainda só vi o primeiro filme, mas não me espanta que o segundo fique um bocadinho aquém. com os livros passou-se a mesma coisa: o primeiro mais ambiência (para mim o melhor), o segundo mais acção (o pior) e o terceiro mais equilibrado (pois). mas no fundo, tudo muito entretido e agradável para o consumidor.
referência artística: apesar do baixo relevo, as títeres da noomi rapace não são nada despiciendas.
um abraço.