Um casal (Cameron Diaz, inexcedível, e James Marsden, discreto) recebe uma misteriosa caixa, acompanhada duma não menos misteriosa proposta: se carregarem num botão da caixa recebem um milhão de dólares, mas alguém morrerá instantâneamente. Ao espectador português isto fará soar imediatamente um alarme, claro: remete-nos para aquele Teodoro, que para ficar com a imensa fortuna de um longínquo Mandarim, apenas teria que tocar uma campainha que provocaria a morte do dito cujo.
Richard Kelly não se baseou directamente no fantástico 'O Mandarim', mas no conto 'Button, Button' do argumentista e escritor de Ficção Científica Richard Matheson (conto que também já foi adaptado num episódio de 'The Twilight Zone') - e este foi garantidamente beber a Eça.
Por estes ínvios caminhos temos então o regresso de Richard Kelly, autor de um dos mais extraordinários primeiros filmes dos últimos largos anos ('Donnie Darko', de 2001), mas que tem andado perdido desde aí: 'Southland Tales', o seu filme seguinte, teve péssimas críticas no festival de Cannes de 2006 e acabou por ser remontado para estrear em poucas dezenas de salas nos States (cá nem chegou a estrear) com parcos resultados financeiros e de estima; e este 'The Box' (esqueçamos o título português), do ano passado, não teve muito melhor sorte.
Mas voltemos à fita: depois da premissa inicial, o argumento vai-se tornando confuso e exotérico, apenas clareando o seu sentido lá mais para o final, antes da FC dar lugar a um registo cláustrofobico, mais perto do filme de terror. O ambiente é algo místico - para o que contribui a banda sonora de Win Butler, Régine Chassagne (ambos dos Arcade Fire) e Owen Pallett (também habitual colaborador da banda) - com matizes 'existenciais' (é citado Sartre e tudo), mas paradoxalmente mantendo um tom anacrónico, à bom velho filme de FC dos anos 50.
E foi este lado 'revivalista' o que mais me prendeu - pareceu-me, apesar das bizarrias, estar a ver um bom 'filme de género', daqueles que já não existem há muitos anos (tive o mesmo sentimento com 'O acontecimento', de Shyamalan).
E foi este lado 'revivalista' o que mais me prendeu - pareceu-me, apesar das bizarrias, estar a ver um bom 'filme de género', daqueles que já não existem há muitos anos (tive o mesmo sentimento com 'O acontecimento', de Shyamalan).
Felizmente Richard Kelly mantém a mão, é um cineasta de primeira, e mesmo não alcançando o nível de 'DD' (um ovni irrepetível), não se 'normalizou' e dá-nos um bom filme que não se confunde com nada do que para aí anda.
The Box, E.U.A., 2009. Realização: Richard Kelly. Com: Cameron Diaz, James Marsden, Frank Langella, James Rebhorn, Holmes Osborne.
6 comments:
Preciso conferir, afinal a crítica anda muito dividida em relação a este filme.
abraço!
finalmente linkei este blog ao meu!
Não é um filme para todos os paladares, não... :)
Ora d'Eça não me lembrava eu. Bem visto, poderia estar dois dias a reflectir sobre o filme que jamais me recordaria da fortuna de O Mandarim.
Um abraço,
André
PS - há momentos, lá para meio do filme, que o argumento chega a dar um nó bem retorcido, e senti a plateia a mexer-se nas cadeiras e alguns sussurros à laia de "What a hell..." É estranho este OFNI.
Pois eu, que fui ver o filme "em branco", estive um bom bocado a cismar se ele se teria mesmo inspirado n' 'O Mandarim'...
Mal acabei o filme fui ver de quem era o argumento!
abraço
Como considero o Donnie Darko um aborrecimento infinito, acho que não voltarei a dar hipótese ao Kelly, mas gosto da imagem do post.
Pois, eu não aconselharia este a quem não gostou do DD...
Ainda bem que gostas da imagem. Actualmente, para mim, a parte mais divertida do blog é escolher a imagem que ilustra cada post;)
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