‘Crazy Horse’ pode ser visto como um filme gémeo de 'Dança - Le Ballet de L´Opera de Paris'. Depois de deambular por uma das companhias de ballet mais prestigiadas do mundo, Wiseman vira-se agora para o auto-intitulado melhor espectáculo de dança de nus do mundo.
E o mínimo que se pode dizer é que no Crazy Horse se levam tão a sério como no Ballet de l’Opera. O coreógrafo queixa-se da pressão dos accionistas sobre datas de estreia, mas ele responde que não acorda genial todos os dias, e que não se podem impor prazos a artistas. E o director artístico fala mesmo em Fassbinder e Michael Powell para explicar as suas criações. E todos têm teorias próprias sobre a mulher, a feminilidade, o desejo.
Este filme tem sido criticado, no entanto, por Wiseman se deter mais no espectáculo, mostrando-nos inúmeros ‘números’, do que naquilo que se passa à volta, ou no que está por trás. E penso que as críticas têm alguma razão de ser, não obstante alguns momentos magníficos de humor e subtileza (como quando o realizador nos mostra as bailarinas num momento de descontracção a verem um vídeo de ‘apanhados’ de dançarinas famosas, do Bolshoi, etc., a caírem, ou em situações cómicas provocadas por falhas; ou quando nos dá uma panorâmica do público da casa meramente mostrando-nos a impressão das fotografias que os espectadores tiram para recordação).
Mas de facto (a montagem de) Wiseman centrou-se essencialmente nos números do Crazy Horse, o que às tantas, paradoxalmente, torna o filme um pouco aborrecido. Mas talvez Wiseman tenha tentado captar assim o que desde à décadas tanto atrai milhares e milhares de pessoas (uma boa fatia das quais mulheres, é-nos dito por uma responsável) para este espectáculo.
Seja como for, se não é um Wiseman de 5 estrelas, é um Wiseman de 4 estrelas. A não perder, portanto.
Crazy Horse, Estados Unidos/França, 2011. Realização: Frederick Wiseman. Documentário.
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