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26.12.11

Inquietos


Vi pela primeira vez um filme de Gus Van Sant aí há vinte anos, era 'Drugstore Cowboy', com Matt Dillon que eu já conhecia de 'Rumble Fish' e 'Os marginais' e com Kelly Lynch que eu não conhecia de lado nenhum. Gostei tanto que nunca mais deixei de acompanhar Van Sant. Vi o belo 'A caminho de Idaho' com River Phoenix dois anos antes de morrer, o estrambólico 'Até as vaqueiras ficam tristes' com Uma Thurman, o gélido 'Disposta a tudo' que faria as pessoas olharem para Nicole Kidman como sendo mais do que Mrs.Cruise, assisti à fase em que a crítica o deu como morto, em 'O  Bom rebelde', no dispensável remake de 'Psycho', no subestimado 'Descobrir Forrester', assisti numa sala vazia ao verdadeiro massacre para o espectador que é 'Gerry', Matt Damon e Casey Affleck duas horas a deambularem perdidos no deserto, prenuncio do que aí viria, que seria a ressuceição crítica com 'Elephant', seguida de dois filmes no mesmo comprimento de onda melancólico, 'Últimos dias' (de Kurt Cobain) e 'Paranoid Park' (o meu preferido dos três), assisti ao regresso a terrenos mais 'narrativos' em 'Milk' (Oscar para Sean Penn) e andei para trás no tempo para ver o que não vi quando saiu, 'Mala Noche', a sua estreia.

E cheguei agora a 'Inquietos'. Não é um filme perfeito: não gostei de duas ou três cenas que me pareceram escusadas (como a do médico a combinar o "golfe às cinco") e demorei algum tempo a livrar-me dum certo tom de 'artificialidade' do argumento (um rapaz que 'penetra' em funerais e tem um amigo imaginário que é um kamikaze envolve-se com uma miúda apaixonada por Darwin e com um cancro terminal soa assim um bocado a argumento de finalista de curso de escrita criativa ou de aspirante a argumentista de filmes indie). Mas quando  chegou ao plano em que ele a 'apresenta aos pais', logo me rendi. É que 'Inquietos' tem dos momentos mais tocantes que vi em muito tempo numa sala de cinema. E tem uma actriz - Mia Wasikowska - que merece o céu. E um grande realizador, com um talento especial para escolher os seus actores e actrizes. É um dos filmes do ano, pois claro.

Restless, E.U.A., 2011. Realização: Gus Van Sant. Com: Henry Hopper, Mia Wasikowska, Ryo Kase, Schuyler Fisk, Lusia Strus, Jane Adams.

15 comments:

Lia Ferreira said...

Ai caramba, tenho que ver antes que o ano acabe! :))

Ando na corrida contra o tempo! Hoje fui apanhada de surpresa pel'As Serviçais!..

Tentar ler alguns milhares de páginas de literatura até 31 de Dezembro também não ajuda!...

Acho que não é este ano que faço o meu primeiro top ten... ooh... não vou ter tempo!.. :)

Unknown said...

Eu nos últimos dias vi 4 ou 5 estreias que me tinham escapado...

Mas ainda queria ver a Toupeira e o do Polanski, que parece que ainda estreia este ano, antes de fazer o top, a ver se consigo pôr 10 filmes de que tenha gostado verdadeiramente, que não está fácil :)

Lia Ferreira said...

Acho que estreia dia 29, o do Polanski... estou à espera há meses mas vou estar com as minhas miúdas e já não vou conseguir vê-lo este ano...
vou tentar o Inquietos na 4ª feira!

Mas, até à data, um que valeu muito a pena foi o Killer Joe! Vi no Festival (Lisboa e Estoril) e fiquei parva!.. Top 3. Talvez Top 1! :)
Não sei se estreará cá, acho que ainda não tinha distribuidora... devias ver (digo eu...)!

Se não falarmos antes: Bom Ano! E bons filmes! :)

Unknown said...

Se não estrear há sempre a net :)

Bom ano!

PMF said...

Pode até nem ser dos melhores filmes do Gus Van Sant (eu por acaso gostei bastante), mas este filme mostrou-me algumas das mais belas cenas que vi em sala este ano.

Cumprimentos

Unknown said...

É um dos melhores do ano. Claramente.

André Moura e Cunha said...

Se fosse ligar à crítica não o veria. Levou uma sova deste e do outro lado do Atlântico. Dos grandes, só o meu crítico preferido (estou como o Luís Filipe Menezes, nesta vida uma pessoa tem de mostrar as preferências), Roger Ebert, é que lhe deu algum destaque, de resto, nem Cahiers, nem os habituais assolapados por Van Sant e a sua imagética.
Ora, eu que até sou fã do GVS (ainda não consegui acabar o Gerry, já o recomecei umas 4 ou 5 vezes - e isto durante os últimos 5 ou 6 anos; e acho fraco o pastiche do jamais copiável Psycho do Mestre), mas Inquietos não há maneira de vir para o o grande ecrã da nossa Invicta... Lá terá de ser o DVD ou a Internet.
Estou curioso pela Carnificina polanskiana, pelos trailers parece que valerá a pena. Segundo dizem, Foster e Winslet estão soberbas no seus papéis. Mas só contará para a minha apreciação do próximo ano.
Entretanto, se quiseres passar lá pela minha "taberna", já estão os melhores, os piores, os não-vistos, e um panegírico ao JLG.
Abraço.
PS - Estou curiosíssimo, e simultaneamente tenho inveja da Lia Ferreira (porque o viu), pelo novo de Friedkin. Será que vai estrear por cá? Alguém sabe?

Unknown said...

Nas estreias do Sapo, que vão até Junho, não está o Killer Joe. Mas estará a seu tempo na net, de certeza, como já está o Restless (ou o Road to Nowhere), cada vez mais a única maneira de quem mora fora de Lisboa ver filmes.

Já vi o teu post, vamos ter alguns em comum nos melhores do ano, e até vou ter um dos teus piores :)

De resto confesso que sou pouco Godardiano, os meus realizadores da Nouvelle Vague são o Rohmer e o Truffaut, seguidos pelo Chabrol. Mas tinha curiosidade em ver o Filme Socialisme, mas não tive oportunidade...

abraço!

André Moura e Cunha said...

É, parece-me que irás ter razão. Acabei de constatar que os direitos de Killer Joe foram comprados pela Clap Filmes, o que não augura nada de bom para a Invicta - propriedade Medeia.
Possivelmente irá directamente para DVD, a Capital do Império já o viu, logo os provincianos se quiserem que o comprem a 14,99 ou 9,99 euros na edição exclusiva da FNAC.
Ontem fiquei chocado com o escaparate dedicado ao Cinema de Autor na FNAC do GaiaShopping. Já está em DVD Norwegian Wood do meu mui estimado realizador vietnamita Tran Ahn Hung (a maravilhosa quietude de As Luzes de um Verão, a barbárie de uma metrópole em Cyclo e até a Papaia Verde me cheirou bem - esquece as conotações...) Podia ter visto o filme em Espanha, mas já sabes há aquela mania irritante, danosa da arte materializada em filme, da dobragem e esperei estupidamente pela estreia em Portugal (ainda por cima os direitos pertenciam à Lusomundo, logo pareceu-me que estrearia por aqui, e dada a popularidade de Murakami por cá...)
Bom, a crítica tem vindo a arrasá-lo mais pela monotonia (suponho que não compreendem o ritmo narrativo do vietnamita), por Tran - que também é o autor do argumento - haver cortado grande parte da rebuscada ficção de Haruki Murakami (por acaso, na minha opinião, é de longe a sua melhor obra, e já li quase todas, excepto as últimas - apesar de constarem da minha biblioteca -, porque me cansei de tanto nipo-realismo mágico, os poços, as árvores, as aves, os peixes e gatos, e as figuras espectrais de uma maldade intrínseca) e por se impor exclusivamente nas imagens de um beleza sublime (T.A-H é um dos raros estetas do cinema contemporâneo, qualidade comprovada nos filmes anteriores). Mas gostaria de ver e ouvir a banda sonora sobreposta às imagens, a primeira está a cargo do meu também muito admirado Jonny Greenwood (responsável pela BSO de Haverá Sangue de PT Anderson e membro-fundador dos maravilhosos Radiohead, cujas músicas, especialmente "Creep", acompanharam a violência gráfica de Cyclo).
Enfim, temos de nos sujeitar aos ditames das distribuidoras.
Desculpa-me esta verborreia toda e o gasto de espaço no teu blogue.
Aproveito esta oportunidade para te desejar um bom ano de 2012.
Um abraço,
André

Unknown said...

Eu comecei a ler o Murakami pelo 'Sputnik...' e pelo 'Norwegian Wood', precisamente. Depois quando cheguei aos seus livros mais celebrados, como o 'Kafka...' depressa me cansei do seu 'nipo-realismo mágico' como bem dizes, e desisti. O que eu gostava verdadeiramente nele eram aqueles personagens solitários, que viviam um bocado fora do mundo.
Reconciliei-me agora com o muito bom '1Q84', de que ainda só li a 1ª parte pois a editora só irá lançar a 2ª e a 3ª não sei quando (apesar de lá fora ter saído em apenas 2 volumes, mas isso já é outra conversa...).

Por acaso até já me tinha esquecido do filme, que me tinha chamado a atenção quando passou já não me lembro em que festival. Vou tratar disso!

Boas entradas!

PMF said...

O Killer Joe chegou a ter estreia prevista para o início de 2012, não sei se entretanto já alteraram a data ou não. Ou se foi à vida. Espero que não, pois também foi dos bons filmes que vi este ano no cinema quando passou no Festival do Estoril e merecia estrear. A ver vamos.

Cumprimentos

Unknown said...

Por cá é normal as estreias serem sucessivamente adiadas e às vezes até acabarem por ir parar directamente ao dvd..

Lia Ferreira said...

(por vos ver falar nisso, tenho uma data deles por ver...er... via net... ahem!... o Poesia, o Filme Socialisme, enfim... muitos não são deste ano mas tenho cerca de 270 em atraso... :D é muita coisa...)

E já que falam em livros, bem... já nem compro mais enquanto não conseguir dar um avanço à coisa! Tenho sempre mais olhos que barriga.

Também me deram o 1Q84 no Natal... :)
Mas tenho mais alguns à espera...

Isto é uma vida difícil!.. Uff!..

mariana said...

Desculpa se estiver errada, mas acho que é "indie" de "independent", não?

Unknown said...

Corrigido!