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2.12.05

Ferro 3



Este é o terceiro filme do coreano Kim Ki-duk que vejo. O primeiro, 'O bordel do lago', mostrava-nos uma bizarra relação sadomasoquista, que envolvia, imagine-se, anzóis; o segundo, 'Primavera, Verão, Outono, Inverno...e Primavera', parecia realizado por outra pessoa - é um filme zen, minimalista, sobre a relação entre um mestre budista e o seu discípulo. Deste 'Ferro 3' pode-se dizer que tem algo da violência do primeiro e algo do espírito zen do segundo. Há, no entanto, uma coisa que os três têm em comum: o silêncio. A personagem principal de 'Bordel do lago' resolveu deixar de falar. Mestre e discípulo de 'Primavera...' trocam ao todo meia dúzia de frases. E o protagonista de 'Ferro 3' não emite um único som durante todo o filme (a protagonista dá um berro no inicio e depois remete-se ao silêncio até ao fim) - Kim Ki-duk poderia ter realizado no tempo do mudo, que os seus filmes não seriam muito diferentes do que são. O tema omnipresente nos seus filmes também é dos mais antigos: a dificuldade de relacionamento entre os seres humanos, a dificuldade de uma pessoa de se inserir na vida normal. De tentar passar ao lado do mundo. Ou refugiando-se numa ilha de um lago, ou escondendo-se num mosteiro budista, ou ocupando casas cujos proprietários se encontram ausentes. E o protagonista deste filme leva este desejo ao extremo. Faz questão de se fotografar em cada casa que ocupa, como que para deixar um rasto, provar que esteve ali, que existe. Mas não há máquina fotográfica que lhe valha: de tanto querer ser invisível, acaba por se transformar num fantasma. E quem não acreditar em fantasmas, que veja o filme e depois fale comigo.
Bin-jip/3-Iron, Coreia do Sul/Japão, 2004. Realização: Kim Ki-duk. Com: Hee, Lee Seung-yeon, Kwon Hyuk-ho, Joo Jin-mo, Choi Jeong.

2 comments:

drinkthestars said...

escreve-me um dia destes :) *s

Ademar de Queiroz (Demas) said...

Acho esse "Casa vazia (Bin-jip)" muito bom (já tinha gostado bastante do "Primavera, Verão..."). A capacidade filmar sem que os protagonistas emitam uma palavra sequer e ainda assim conseguir expressar toda a intensidade do sentimento que os envolve é coisa de mestre. Ah, e o protagonista não vira fantasma, ele apenas treinou muito para se fazer invisível de fato (uma vez que, socialmente falando, ele já era invisível: quem o via? quem se importava com sua existência?). Outra prova de que ele só se torna invisível de fato quando quer é que o marido da mulher espancada é avisado quando moço deixa a prisão. "Casa vazia" é um dos meus top3 de 2005. Abração.