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15.8.06

Samaritana



E de repente Kim Ki-duk tornou-se uma presença regular nos ecrãs portugueses. 'Samaritana, que estreou este ano em Portugal, mas é de 2004 (tal como Ferro 3), deu ao realizador coreano o Urso de Prata de melhor realizador no Festival de Cinema de Berlim desse ano e, para não fugir à regra da sua filmografia, é um filme difícil de definir. Para o leitor ter uma ideia, nada como tentar resumir o argumento (quem não gostar de spoilers, tenha a gentileza de saltar para o último parágrafo!): duas adolescentes engendram um plano simples para arranjarem dinheiro para uma viagem à Europa - uma delas (Jae-Young ) prostitui-se. A outra (Yeo-Jin) organiza os encontros, mas está sempre de pé atrás, impressionando-se e ressentindo-se com a facilidade com que a amiga aceita estes 'encontros' com homens mais velhos. Mais até do que os aceitar, a amiga parece gostar deles, achando que acrescenta algo à vida destes solitários, e chega mesmo a afeiçoar-se a um deles. Mas um dia as coisas correm mal e ela tem um 'acidente' fatal. Yeo-Jin toma então uma decisão insólita: vai ter com todos os homens com quem Jae-Young estivera, dorme com eles e devolve-lhes o dinheiro que haviam pago à sua amiga. Ou seja, Yeo-Jin que parecia a personagem secundária na história de Jae-Young, que achava que iluminava os homens dormindo com eles, torna-se na personagem principal de uma história mais complexa de busca da redenção, de necessidade de sacudir os seus sentimentos de culpa e desamparo através do 'pecado' ou do 'sacrifício' (será?). Mas o filme não se fica por aqui: temos ainda uma terceira parte, sobre a vingança violenta do pai de Yen-Jin (um policia), quando descobre a vida que a filha anda a ter - e do ambiguo final do filme, cena entre pai e filha, muito haveria a dizer.
Kim Ki-duk não consegue controlar inteiramente este argumento que por vezes parece que lhe foge das mãos, sendo o filme manifestamente desequilibrado. Muito bonito no início, quando nos mostra a amizade e cumplicidade das duas amigas, é algo arrastado e difuso a partir daí, quando se dispersa a acompanhar os sentimentos e acções de pai e filha. Ainda assim é um filme que vale a pena ver por quem aprecia o risco. A tristeza sempre presente como pano de fundo nos filmes do cineasta coreano, que nos transmite um 'mal existencial', transcende em muito a critica à sociedade coreana (neste caso à prostituição adolescente) - é um retrato do modo como vê o mundo em que vivemos. Se é pessimista ou realista, o espectador que decida.
Samaria, Coreia do Sul, 2004. Realização: Kim Ki-duk. Com: Kwak Ji-Min, Seo Min-Jung, Lee Uhl, Kwon Hyun-Min, Oh Young.

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