Os Hoover dirigem-se à Califórnia numa velha 'pão de forma' amarela, para a miúda mais nova participar num desses monumentos à parvoíce mais deprimente que são os concursos de beleza infantil dos States. Quem é esta família? O pai da miúda inventou um método em 9 passos para se atingir o sucesso (mas como não o consegue vender está à beira da bancarrota) e profere a palavra 'vencedor' de cinco em cinco minutos (mas é obviamente um looser chapado); o tio é um académico especialista em Proust que se tentou suicidar porque o aluno por quem se apaixonou preferiu o seu concorrente, que ainda por cima foi canonizado como o maior especialista americano em Proust (remetendo-o a ele para a segunda posição); o irmão da miúda é um adolescente leitor de Nietzsche, que fez um voto de silêncio até entrar para a força aérea; o avô é viciado em drogas e pornografia e é quem ensaia a miúda (gordinha!) para o concurso de misses; e finalmente a mãe, pessoa mais equilibrada, tenta evitar que a casa vá abaixo. 'Uma família à beira dum ataque de nervos' é como um filme de Wes Anderson sem as bizarrias de Wes Anderson, impregnado do sentido de crítica social de Tod Solondz, mas substituindo o tom 'melancómico' destes por um humor abertamente contagiante, por vezes a roçar o burlesco.
Que a dupla Jonathan Dayton e Valerie Faris (vêm dos telediscos, mas graças a Deus não se nota nem por um segundo) tenha assinado o filme mais divertido do ano, pegando numa família disfuncional para atacar um dos pilares mais firmemente arreigados da sociedade americana - a cultura do 'sucesso' - eis um feito digno dos maiores encómios, que o torna também num dos melhores filmes do ano.
Little Miss Sunshine, E.U.A., 2006. Realização: Jonathan Dayton e Valerie Faris. Com: Greg Kinnear, Toni Collette, Steve Carell, Abigail Breslin, Paul Dano, Alan Arkin.
5 comments:
É uma reinvenção total do género familiar, de forma agradável e divertida, mas também triste. Uma pérola.
Cumprimentos!
é verdade, uma surpresa.
Até À data, a melhor estreia do ano. No filme tudo é surpreendente pela positiva.
Mais um filme independente. Bom, por sinal, mas não mais.
ok :)
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