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19.12.06

Da batota



No comentário áudio a Sin City, incluído nos extras do respectivo dvd, há uma muito interessante conversa entre Robert Rodriguez e Quentin Tarantino. Tarantino, recorde-se, realizou uma das cenas do filme (a viagem de carro de Clive Owen e Benicio del Toro). Segundo conta Rodriguez, tudo começou com uma proposta sua: ele faria a banda sonora de Kill Bill 2 à borla e em troca Tarantino participaria num filme seu. Rodriguez queria que Tarantino experimentasse trabalhar com tecnologia digital, algo que este achava uma blasfémia, mas a que acabou por ser tentado. Sin City era o filme ideal para o fazer: foi todo filmado em digital, com uma técnica denominada 'croma' (green screen) que consiste em filmar os actores em frente a um ecrã verde, sendo os cenários e outros elementos adicionados durante a pós-produção. Tarantino diz que quando viu o filme em croma lhe pareceu uma peça de Sartre! Aliás o seu comentário é totalmente diferente do de Roberto Rodriguez. Este fala num tom calmo e professoral, transmitindo grande autoconfiança e profissionalismo. O filme foi realizado no seu estúdio, com a tecnologia referida, e Rodriguez além de realizar, também se encarregou da fotografia, da montagem, e supervisionou os efeitos especiais. O seu comentário incide sobretudo em explicações técnicas ou de produção: como convenceu primeiro Frank Miller a embarcar no projecto, e depois Bruce Willis, Mickey Rourke, etc. Um aspecto interessante que ele revela é que a única forma de reunir este cast impressionante foi ter os actores segundo a sua disponibilidade, pelo que na grande maior parte das cenas estes não chegaram a contracenar uns com os outros, foi tudo feito durante a montagem! O comentário de Tarantino é todo noutra onda. Com a sua voz esganiçada de puto excitado, começa logo pela sua peculiar cinefilia, revelando que se inspirou em Dario Argento para a sua cena. Mesmo para explicar aspectos técnicos, recorre a uma história passada durante a realização de Cães Danados, ou então conta como Jean-Pierre Melville já usava uma certa técnica que o digital veio facilitar. E às tantas dá-se um diálogo que mostra bem as diferenças entre os dois realizadores, muitas vezes postos no mesmo saco (esclareço que sou fã de Tarantino e que olhava de cima para Roberto Rodriguez até Sin City, de que gostei bastante). Cito por alto, que não tenho o dvd à mão, e o que interessa é a ideia. Com uma genuína curiosidade Tarantino pergunta como é que Rodriguez fez uma determinada cena, algo do género como é que conseguiu que uma actriz não fechasse os olhos. Rodriguez explica que fez um 'truque', baseado na montagem, ao que Tarantino exclama entre o irónico e o chocado: mas isso é batota! Ao que lhe responde calmamente Rodriguez: [no cinema] tudo é batota.

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