Mircea Eliade transformou num romance as suas meditações sobre a velhice, sobre o tempo necessário para se completar uma obra - quando uma vida não chega para abarcarmos tudo o que queremos pôr no papel. Coppola pega no tema e torna-o seu, dando-nos um filme meditativo, melancólico, onírico, povoado por momentos místicos e – claro, vindo de quem vem – estupendamente filmado.
'Youth Without Youth' (belo título que se vai na 'tradução') é de uma estranheza por vezes desconcertante. Tim Roth (soberbo) paira sobre ele como um fantasma, a fotografia do romeno Mihai Malaimare Jr., em tons sépia, claros, dá-lhe um tom irreal e etéreo, e a história vai-se desenvolvendo em episódios estranhos, bizarros mesmo, por vezes (como os da rapariga ‘possuída’).
Não é certamente um prato para todos os paladares, e percebo quem o acuse de ser descosido e sem grande sentido. Mas penso também que quem se deixar envolver no seu mundo, um mundo antigo, que já não existe, com reminiscências que vão desde ‘O terceiro homem’ até Thomas Mann (não sei bem explicar porquê, a ‘Montanha Mágica’ veio-me à ideia várias vezes), será recompensado com um filme muito diferente de tudo o que por aí anda, obra anterior de Coppola incluída.
Confesso que ao escrever sobre este filme sinto-me um pouco como me senti a defender 'The Fountain': não me é fácil defender filmes esotéricos, por assim dizer. Compreendo todos os argumentos dos seus críticos, muitos dos quais admiro, e no entanto...
Resumamos assim: achei-o um grande filme e o melhor Coppola desde 'O Padrinho III'.
Youth Without Youth, E.U.A./Alemanha/França/Itália/Roménia, 2007. Realização: Francis Ford Coppola. Com: Tim Roth, Alexandra Maria Lara, Bruno Ganz, André Hennicke, Marcel Iures.
7 comments:
quanto a "The Fountain" ainda não sei o que dizer, embora tenha momentos de gozo estético.
"The Fontain" ainda não vi, mas este foi uma desilusão.
Pois parece que o foi para quase toda a gente. Eu este ano ando contra a corrente...
Diferente do que Coppola nos habituou mas ao mesmo tempo com marcas autorais inegáveis.
Achei Youth Without Youth intrigante e belo. Coppola não me desiludiu, antes pelo contrário. Fascinou-me de uma forma nova.
um filme intrigante,mas com momentos muito maus!
Eu achei-o encantador e desconcertante. A história irregular e onírica conquistou-me e emocionou-me. Está esplendidamente bem filmado e estruturado.
Eu sou uma defensora do The Fountain. Só não entendo a crítica à banda sonora. O Clint Mansell criou mais uma vez uma obra-prima de ficar com os olhos molhados.
Post a Comment