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14.7.08

Curtas de Vila do Conde

A curta brasileira ‘Muro’, de Tião, foi a vencedora do Grande Prémio Cidade de Vila do Conde 2008. O filme esteve integrado na secção ‘ficção’, mas também não teria ficado mal na ‘experimental’. O seu conteúdo é razoavelmente hermético, alternando diferentes narrativas que se pressupõem alegóricas e carregadas de crítica social (a quê?). Tal como acontece com algumas obras de arte moderna, talvez só um texto do realizador explicando os seus propósitos nos poderia dar mais pistas…
Fãs da curta falaram-me em ‘imagens fortes, poderosas’, mas a mim esteve longe de me convencer, embora quem cá ande há algum tempo o intua logo como filme ‘premiável’.

Em sentido contrário gostei bastante de ‘Love You More’, Prémio UIP/Vila do Conde, da britânica Sam Taylor-Wood, história de descoberta sexual de um adolescente ao som dos Buzzcocks. Em 15 minutos dá-nos todo um retrato de uma época e de uma geração pré-downloads, em que se esperava com fervor pelo single que antecedia o álbum da nossa banda favorita.
Tenho um amigo meu que costuma dizer que estou muito agarrado ao ‘formato canção’, dado o meu desdém por hip-hops e quejandos, e foi esse sabor ‘old fashion’, esse ‘formato canção’, que tanto gostei nesta curta.

Muito acima da média, pareceu-me também ‘Corrente’ de Rodrigo Areias, sedutora e misteriosa curta centrada no rio que banha uma pequena povoação mineira, onde cada um lava as suas ‘sujidades’. Acumulou o triunfo na Competição Nacional, com o Prémio do Público, o que não deixa de ser surpreendente (o público costuma votar em ‘anedotas filmadas’).

O Prémio para a Melhor Ficção foi para ‘The Adventure’, do americano Mike Brune, que parte duma premissa curiosa – a confusão instalada por dois mimos em duas personagens muito ‘americanas’, muito ‘normais’ – mas que acaba por se perder um pouco. Penso que a brecha que abre entre realidade e ficção seria mais matéria de análise para um crítico a la Zizek, que para o cinéfilo comum que termina razoavelmente entediado…


Os vencedores dos restantes prémios sectoriais, não aqueceram nem arrefeceram. O vencedor do Prémio para Melhor Animação, 'RGBXY', do irlandês David O’Reilly, é algo original na forma, com personagens de jogo de computador, mas esse efeito é diluído pela ‘mensagem’ e por um tom geral dejá vu. O mesmo se diga dos vencedores dos prémios para o Melhor Filme Experimental, 'Ah, Liberty!', de Ben Rivers (Reino Unido) e do Prémio para o Melhor Documentário, 'Three Of Us', de Umesh Kulkarni (Índia), competentes e correctos, mas indistintos de tantos outros que têm passado por este festival.
Houve ainda um prémio para um vídeo dos Liars, mas eu de videoclips não falo, nem percebo o que andam aqui a fazer.


Uma última palavra para 'Dennis' do dinamarquês Mads Matthiesen, o filme extra-palmarés que mais gostei (das 3 sessões que vi), discreto retrato da solidão urbana que retoma a história do ‘Homem elefante’ na forma de um acanhado body builder.

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