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24.2.10

Um homem sério
















Num dos meus contos preferidos incluído em 'Tertúlia de mentirosos', uma recolha de 'contos filosóficos do mundo inteiro' efectuada por Jean-Claude Carrière (argumentista, entre outros, de vários filmes de Bunuel), acontecem todas as desgraças possíveis a um pobre camponês que labuta honesta e arduamente todos os dias para sustentar a família. Até que um dia, o pobre homem, desesperado, pergunta a Deus que mal lhe fez. Ao que este responde tranquilamente: 'Tu não me fizeste nada. Mas de vez em quando enervas-me'.

Esta será mais ou menos a lógica deste filme ilógico, em que acontecem uma série de coisas ao pacato professor de física Larry Gopnik (muito bom Michael Stuhlbarg) , sem que este vislumbre a sua causa: a mulher trocou-o pelo melhor amigo, um aluno tenta-o subornar primeiro e chantagear depois, os seus superiores recebem cartas anónimas contra ele, etc., etc. Nada disto faz muito sentido, nem para ele nem para o espectador, que se sente igualmente perdido e apático no meio destes e de outros episódios do género. Terá algo a ver com o prólogo, em que um homem (um antepassado de Gopnick?) é amaldiçoado por receber em casa um dybbuk (uma alma errante)? Não sabemos.

Pressentimos que o filme está cheio de referências judaicas e bíblicas (e possivelmente autobiográficas) mas, pelo menos eu, nem as apanhei nem me senti muito tentado a fazê-lo. Das personagens secundárias (os filhos, o cunhado), aos episódios que se vão sucedendo, tudo me pareceu colado a cuspo, sem um fio narrativo - ou o que quer que seja - que leve o filme a algum lado.

Não sendo um filme, digamos, 'sério' como 'Este país não é para velhos', 'Um homem sério' também não é uma comédia (nem sequer das menores como 'Destruir depois de ler'), nem um filme 'místico' a la 'Barton Fink'. Ou talvez seja um pouco disto tudo, mas em solução diluída.

No final, só fiquei com uma certeza: é o filme dos manos mais entediante que alguma vez vi.

A Serious Man, E.U.A./Grã-Bretanha/França, 2009. Realização: Ethan e Joel Cohen. Com: Michael Stuhlbarg, Richard Kind, Fred Melamed, Sari Lennick, Aaron Wolff.

1 comments:

Anonymous said...

Eu gostei bastante. Bastava a piada do rabino que está ocupado porque está a pensar.