Depois de no ano passado terem estreado nas salas portuguesas filmes de Eric Rohmer e Jaques Rivette , este ano tivemos Godard (A nossa música) e agora Chabrol. Ou seja, todos os pontas de lança da Nouvelle Vague (Truffaut, como se sabe, morreu prematuramente em 1984).
Chabrol, que já vai em mais de 50 filmes, tem realizado o que por vezes se designa por 'thriller de costumes' - parte de uma história de cariz mais ou menos policial para criticar a burguesia francesa. Desta vez adapta Ruth Rendell (como em 'A cerimónia), tal como já adaptou Patricia Highsmith (tal como o seu mestre Hitchcock).
Philippe conhece Senta no casamento da irmã deste, de quem é a dama de honor. Desde logo ela lhe declara que foram feitos um para o outro e vai-o envolvendo no seu mundo, que ao inicio parece de fantasia mas inofensivo, mas que se revela malsão e perigoso - Senta acha que são predestinados e estão para além do bem e do mal. Diga-se que esta história não é especialmente original, mas depressa percebemos que ao contrário do que o titulo indica, a personagem principal do filme, a que verdadeiramente interessa a Chabrol, é Philippe e não Senta. Ele é o jovem responsável, o amparo da mãe e da irmã rebelde, braço direito do patrão (que lhe quer dar sociedade), que tem uma vida monótona e sem sobressaltos. Aliás ele próprio conta ao seu patrão o 'segredo' para conseguir o que consegue: 'bom senso'. Apesar disso, apesar das suas resistências, do seu esforço, não consegue (ou não quer) libertar-se da teia em que Senta o vai prendendo. Nunca percebemos muito bem os seus sentimentos em relação a ela: há uma forte componente sexual (e, já agora, fetichista), mas também não será alheia à sua atracção a personalidade doentia que Senta lhe vai revelando, e que sentimos sempre que irá levar este rapaz bem comportado à perdição.
Aos 74 anos Chabrol não tem nada a aprender em termos de cinema: a mise en scène é perfeita, os actores muito bem escolhidos (Laura Smet uma escolha pouco óbvia, com pouco ar de femme fatal; Benoît Magimel excelente, sonolento mas sedutor), a fotografia (de Eduardo Serra), oscilando entre a luminosidade exterior e a obscuridade da cave de Senta, magnifica. Dirão alguns que Chabrol fez mais do mesmo. Será, mas quando o resultado é tão bem conseguido, tão superior a quase tudo o que anda por aí, para mim chega e sobra. Que mantenha este nível por muitos anos e filmes é o que desejo.
La demoiselle d'honneur, França/Alemanha/Itália, 2004. Realização: Claude Chabrol. Com: Benoît Magimel, Laura Smet, Aurore Clement, Bernard Le Coq, Solene Bouton.
5 comments:
procura-se rapaz de braga para contacto intímo e intenso. máxima descrição.
passa-se qq coisa com o blog...
os textos tão mto ca para baixo
:(
este template tem dado muitos problemas, não sei porquê...tanto está tudo bem como acontecem coisas estranhas, além que demora muito a carregar.Não sei que faça.
Encantoume ese filme de Chabrol. Chegou xa a Portugal o último de Bertrand Tavernier, "Holy Lola"?
Não, não chegou. Aliás já não me lembro dum filme de Bertrand Tavernier que tenha estreado em Portugal...não faço ideia porquê.
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